No Instituto Alethéia, os supervisores são responsáveis por repassar os casos, porém, antes que isto seja possível, eles avaliam o desenvolvimento do aluno para saber se o mesmo está apto a receber. Esta avaliação é feita no decorrer da supervisão, onde se leva em conta a assiduidade do profissional em formação, seu comprometimento com o espaço e com os demais. Antes mesmo da entrevista é feita uma triagem para obter dados básicos do cliente como e-mail, endereço, para saber como eles conheceram o Instituto e qual seria sua demanda inicial, sem se aprofundar nela neste momento. Posteriormente, os alunos entram em contato, através de ligação telefônica para agendar um dia e horário para dar início as sessões.
Assim é dado início a entrevista. A entrevista psicológica é uma ferramenta usada pelo psicólogo para realizar uma consulta com o cliente com o intuito de coletar dados. Bleger (1980) define esta ferramenta como “um campo de trabalho no qual se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos”.
A entrevista é um processo que ocorre entre as duas partes envolvidas, ou seja, entre o psicólogo e o cliente, onde o primeiro busca saber o que está acontecendo com o cliente para assim procurar agir conforme este conhecimento (WIENS apud NUNES, In: CUNHA, 1993). É importante que ambas as partes vivenciem esta experiência juntas, para que seja possível reparar no que o cliente está sentindo durante a sessão e, assim, saber como agir de acordo com a personalidade observada e as questões apresentadas por cada cliente, de modo a entender quando incentivar, apaziguar ou orientar. Quando o terapeuta se entende melhor ele consegue de forma mais eficaz acolher o outro, então estar atento às suas próprias questões é importante para realizar uma entrevista eficiente e construir uma boa relação terapêutica com o cliente.
Na entrevista clínica o objetivo inicial é obter informações relevantes e precisas e estabelecer uma base para a construção de um bom relacionamento terapêutico com o cliente, seguindo alguns critérios importantes, como delimitar o tempo da entrevista (no caso, de 50 min), ter uma noção de perguntas semi-diretivas, mas não se prender completamente a elas para que a entrevista não fique cansativa ou engessada, além disso é essencial se preocupar com o conforto e a privacidade do cliente (MORRISON, 2010). É importante, nesse primeiro momento, explicar o que será feito, entender a demanda inicial do cliente, demonstrar interesse, para assim obter as informações relevantes e, depois de estabelecido esse primeiro contato, deixar os últimos minutos para tratar das questões burocráticas, como valores, regras sobre faltas, fixar horário e explicar a importância de comparecer toda semana.
É de suma importância entender como o Instituto Alétheia funciona com base nos contratos burocráticos, para que seja estabelecido com o cliente. É necessário que explique ao cliente que para seu trabalho ser eficiente é preciso que você encontre com ele pelo menos uma vez na semana, que ele tenha compromisso com esse espaço, que ele esteja sempre em um local privado, para manter o sigilo terapêutico e fique confortável para se abrir. Mas é bom lembrar que esse processo não é totalmente gostoso, pois muitas vezes mexe com a sensibilidade do cliente.
É importante que esse valor seja sempre tratado no final da sessão e não por ligação, até mesmo para que tenhamos a oportunidade de mostrar o trabalho para o cliente e ele ver que este é de qualidade e vale o preço. Ademais, é necessário salientar que as faltas são cobradas, pois aquele horário que o cliente faltar ninguém vai poder ocupar, pois é o horário dele de estar no espaço reservado para ele.
No decorrer da entrevista e em todas as sessões é preciso que seja feito o exercício da imparcialidade que consiste em não julgar o cliente por meio do senso comum, ou até mesmo do que achamos como certo ou errado. O cliente precisa enxergar que pode falar de tudo com o seu/sua terapeuta e se sentir seguro para isso. Sem pensar que pode ser julgado ao colocar o que pensa e até mesmo o que sente e que sentir é errado. Por exemplo, na clínica vamos nos deparar com clientes que acreditam que sentir é ruim, mas é preciso que nós saibamos que sentir não é ruim, apesar de existirem sentimentos desagradáveis, sentir é importante para nosso desenvolvimento e conhecimento pessoal. O sentimento passa a ser ruim se ele causa uma patologia, fora isso ele é necessário.
É provável que esse primeiro contato com o cliente nos gere ansiedade, tendemos a ficar preocupados sobre o que fazer nesse primeiro encontro. Porém dependendo da forma que nos relacionamos com essa ansiedade pode atrapalhar nossa condução, essa preocupação para lembrar de tudo relacionado a base da nossa abordagem pode nos deixar engessado e impedir que aconteça o vínculo com esse cliente. Precisamos levar em consideração que o protagonista é o cliente, o momento é dele, por isso é importante concentrar-se nele, colocando-se no lugar de escuta e esse lugar é o de “não saber”. Essa escuta é participativa, pois nós enquanto terapeutas investimos no cliente para examinar.
Para que não seja robótico, sugerimos que esse momento possa ser “curtido”, vivido e experienciado pelo aluno. É importante que o terapeuta se mostre interessado a ouvir o que o cliente está falando, faça contato visual e por isso nossa conduta no Instituto é não tomar nota durante as sessões, seja acolhedor porque para o cliente pode não ser tão fácil ir a uma psicoterapia, expressar o que lhe causa dor, entre outras coisas. No que diz respeito ao silêncio durante a entrevista, “você deve aprender a caminhar sobre a tênue linha entre permitir breve pausas nas quais seus pacientes organizam ideia e lacunas longas que façam você parecer insensível ou desinteressado” (MORRISON, 2010). Portanto é importante observar para entender, pois em algumas situações o silêncio pode ser um tipo de resistência por um incômodo experenciado pelo cliente, outras vezes o silêncio pode ser reflexivo porque ele pode estar pensando em algo ou organizando seus pensamentos, ou pode estar experimentando um sentimento muito intenso e não saber expressar com palavras. Sendo assim o fato de não possuir palavras para se expressar não quer dizer que o cliente não se expressa, o silêncio também possui um sentido e, portanto, pode ser uma resposta, e se não há palavras para expressar, o cliente pode expressar de outra maneira, por exemplo com o choro, e esse pode ser um momento muito rico e produtivo para explorar. É preciso ter a postura empática, aceitar e compreender as vivências e experiências expressadas pelo cliente sejam elas em palavras, silêncio ou choro.
Referências Bibliográficas
MORRISON, J. Entrevista inicial em saúde mental. 3ª Edição. Porto Alegre: Artmed, 2010
BLEGER, J. (1980). A entrevista psicológica. Seu emprego no diagnóstico e na investigação. Temas de psicologia. Entrevista e grupos [Temas de psicologia. Entrevista y grupos] (R. M. M. Morais, trad., pp. 7-41). São Paulo: Martins Fontes. Tradução da edição de 1979. Buenos Aires, Argentina: Nueva Visión. (Originalmente publicado em 1971)
CUNHA, Jurema Alcides e cols. Psicodiagnóstico-R. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
Data de realização: 26 de julho de 2023, às 10h e 01 de setembro de 2023, às 14h.
Mediadora: Debora de Almeida; Paula Paraguassú Quintanilha; Rafaela Taranto e Taíza Ferreira de Souza.
Supervisora: Isadora Santos CRP 05/55173
Contato: iisf.psi@hotmail.com Instagram: @isadorasantospsi
Revisado por: Kizie Pontes
Contato: kiziepontes@gmail.com Instagram: @kiziepontes